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Foi militante do CDS mas tornou-se conhecido com a aproximação ao Chega. Revela que foi convidado para cônsul honorário por Paulo Portas, que esteve com André Ventura apenas três vezes e que só há dois meses se filiou no partido.

 

Fiz uma transferência de 10.000 euros para o Chega, nem mais nem menos

 

Ao longo dos últimos anos. a SÁBADO publicou várias notícias sobre a intervenção pública de César de Paço. O empresário nunca se reviu nessas publicações. Mas isso não o impediu de aceitar dar esta entrevista, na qual responde a todas as questões e procura esclarecer uma série de factos de interesse público que, no futuro, também poderão ser analisados como parte da história daquela que se assumiu como a terceira força política no Parlamento, o Chega.

 

Qual é a sua relação com o Chega? É militante, financiador, simpatizante?

A minha relação com o Chega durante alguns anos foi de mero simpatizante. Pessoalmente, entendo que Portugal está estagnado economicamente.

O país tem perdido os seus ativos, os jovens não têm perspetiva de futuro, não acreditam no Portugal atual e rapidamente percebem que se querem crescer têm de emigrar. 

O discurso do partido motivou-me desde a primeira hora porque me sentia órfão em termos de representação política.

O Chega trouxe uma esperança de mudança. sobretudo no combate à corrupção que é um flagelo para qualquer sociedade, basta vermos diariamente as notícias. 

Aderi recentemente ao partido porque a militância é uma forma de estar mais próximo e poder contribuir para essa mudança.

 

Como conheceu André Ventura e porque se aproximou do Chega e o apoiou financeiramente? 

Mesmo residindo nos Estados Unidos, sempre fiz questão de acompanhar o que se passa em Portugal. 

Quando o Chega e André Ventura aparecem, fiquei entusiasmado com a ideologia e o seu discurso, rapidamente percebi que o mesmo tinha potencial para chegar a primeiro-ministro. 

A partir daí manifestei junto do meu círculo de amigos a vontade de o conhecer, o que aconteceu através de um amigo comum. 

Confesso que correspondeu àquilo que pensava: afável, culto, com refinado sentido de humor e sobretudo um grande patriota. A partir daí entendi dar-lhe o meu apoio. 

 

Que apoios deu ao Chega? Os €10.480,50 permitidos por lei ou fez outro género de doações?

O único apoio que dei foi financeiro e tenho a prova. Posso apresentar o extrato onde consta uma transferência de 10.000 euros, nem mais nem menos. Todos os partidos vivem de doações e quotas dos seus militantes, por isso não sou detentor de nenhuma exclusividade.

 

O único apoio que dei foi financeiro e tenho a prova. Posso apresentar o extrato onde consta uma transferência

 

Sei que discorda do termo, mas esse donativo não o torna "financiador do Chega"? A associação ao partido preocupa-o?

Por essa ordem de raciocínio, todos os militantes são financiadores. A única coisa que sempre contestei é o epíteto do "maior" financiador do Chega. Isso é ridículo e não corresponde à verdade. Aliás, a minha contribuição foi muito pontual, ocorreu há mais de dois anos e desde então o Chega cresceu, tornou-se a terceira força política em Portugal.

Durante dois anos não mantive qualquer contacto com o Chega e seus dirigentes, exceto na minha última viagem a Lisboa, há dois meses, quando entendi filiar-me. Não me preocupa nada essa associação. 

 


A única coisa que sempre contestei é o epiteto do 'maior' financiador do Chega. Isso é ridículo

 

Nesse processo quantos encontros teve com André Ventura? 

Estive com André Ventura três vezes. Ele é um homem inteligente, perspicaz e preparado. Gosto de pessoas que acrescentam valor. Na minha extensa vida profissional conheci muitas pessoas, de muitas origens e culturas, acredito que isso fez de mim uma pessoa preparada para poder avaliar e o André Ventura dá para entender que é um homem estruturado, sabe o que diz e acredito muito no seu potencial. 

Acha que teve um papel no crescimento do Chega? Qual?

A minha participação no Chega foi circunstancial. Outros terão tido mais influência do que eu. Naquele momento específico em que o partido estava numa fase embrionária e de consolidação, a minha contribuição foi uma ajuda, mas não alterou o rumo dos acontecimentos.

André Ventura e a sua equipa tiveram o mérito de fazer crescer o Chega. Entretanto, o ataque a que fui sujeito em alguns órgãos de comunicação social e a associação que estabeleceram, nos moldes pejorativos em que foi feita, prejudicou ambos.

Ninguém gosta de ficar associado a notícias maliciosas ou com insinuações porque as mesmas têm gravíssimos custos reputacionais. 

 

Fez também um donativo máximo ao CDS, após um encontro com Assunção Cristas. Como descreve a sua relação com o CDS e porque mudou esse apoio para o Chega? 

Fui militante do CDS desde os 18 anos. Na época, mesmo vivendo na Asia e posteriormente nos EUA, tinha carinho pelo partido e identificava-me com a sua ideologia.

Tive oportunidade de ser apresentado à líder do CDS, sabia das dificuldades financeiras que o partido atravessava e decidi contribuir. Até o Chega aparecer o CDS era o partido que tinha as ideias políticas mais próximas das minhas.

A partir de determinada altura, que coincide com uma nova liderança, o CDS tornou-se algo incompreensível, perdeu a sua identidade e os seus valores e deixei de me sentir representado. O CDS não soube manter o interesse dos seus eleitores e tal como eu, milhares de simpatizantes que são de direita conservadora aderiram ao Chega.

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Após o seu donativo ao CDS, a sua mulher Deanna DePaço entrou nas listas dos centristas no círculo eleitoral fora da Europa. Houve quem relacionasse as duas coisas. 

A minha mulher Deanna tem nacionalidade portuguesa e é possuidora de um caráter enorme. O caráter é a mais importante de todas as virtudes, mas requer coragem, honestidade e lealdade a si mesma.

Gosta de Portugal e é uma cidadã interessada em política que partilha dos mesmos princípios e ideologia que eu. Privou com Assunção Cristas e pareceu natural o convite tendo em conta o currículo, a experiência profissional e o grau de envolvimento cívico, porque também ela tem comprovadas preocupações sociais.

Para mais era evidente que o facto de ter ficado em terceiro lugar da lista (só são eleitos dois) não lhe permitia ser eleita. Não há nenhuma relação de causalidade entre um apoio feito por mime o convite à minha mulher. Creio que Assunção Cristas concordará.

 

Qual a origem da sua fortuna? 

Depois de exercer várias atividades criei, em 1997, a minha empresa, que hoje se chama Summit Nutritionals International Incorporated, que se dedica à produção de sulfato de condroitina. Felizmente tem vindo a crescer todos os anos. Como qualquer empresário pago os meus impostos nos EUA e em Portugal, onde também tenho uma sucursal. 

 

Mas concretamente, o que faz a sua empresa?

Sou um dos principais produtores do mundo de condroitina a granel, uma substância obtida através da traqueia animal, bovina, aviário, porcina e também de tubarão. É aplicada na indústria farmacêutica e alimentar. Há cada vez mais médicos a prescrever condroitina e pessoas a tomar para reforço das articulações e por isso é um negócio muito específico, de grande volume e em crescimento. O nosso produto é exclusivamente produzido nos EUA e de lá exporto para todo o mundo. Depois é transformado pelos meus clientes para os fins que referi.

Como se tornou cônsul honorário de Portugal nos EUA?

Fui convidado na altura pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas e com a saída deste para Vice-Primeiro Ministro fui nomeado por Rui Machete. Admito que a notoriedade da minha empresa e a filantropia que exerço há muitos anos possam ter contribuído para o surgimento do convite.

 

Fui convidado [para cônsul honorário] pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas

 

A que filantropia se refere?

Esse é um lado da minha vida que me dá mais prazer. Doações a várias entidades ligadas à proteção animal na alimentação e veterinária. Na solução para problemas específicos que afetam crianças e adultos. Instituições governamentais e não governamentais, principalmente nos EUA e também em Portugal. 

Destas últimas tenho uma especial predileção pelas forças de segurança e sou um fervoroso defensor da polícia e do movimento blue lives matter. Desde 2013 faço anualmente doações que variam entre um e dois milhões de dólares. Tenho ajudado, grande parte das vezes de forma anónima, muita gente em Portugal e nos EUA.

 

Pode dar-me alguns exemplos? 

Em Portugal apoiei a intervenção cirúrgica de uma menina que corria o risco de ser amputada. Ofereci equipamentos de proteção individual aos bombeiros no início da pandemia. Ofereci dois cães à GNR, um dos quais já salvou uma pessoa. Comprei dois desfibrilhadores para ambulâncias.

Paguei obras de remodelação num quartel de bombeiros assim como a aquisição de um auto-tanque. A maior cisterna de água para combate a incêndios estava parada por falta de um veículo para o seu reboque e adquiri um camião. Estes são apenas alguns exemplos. 

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Várias fontes do MNE disseram à SABADO que tentou obter um passaporte diplomático. Qual era o objetivo?

A questão é muito simples e merece um esclarecimento prévio. Só os diplomatas de carreira têm a prerrogativa da mala diplomática, portanto não poderia usufruir da mesma, nem nunca foi o meu objetivo porque era apenas consul honorário. O benefício que o passaporte diplomático dá é a possibilidade de evitar horas em filas de espera nos aeroportos, visto que viajo com muita regularidade. A motivação foi só essa. Ter mais conforto e ganhar tempo. Em tudo o resto estaria sujeito a todas as revistas que as autoridades de qualquer país entendessem fazer como qualquer outro cidadão.

 

É verdade que três vezes consecutivas, ao regressar aos EUA, foi sujeito a revista pelas autoridades? 

Sim. Foi um caso atípico. Ao passar na alfândega sempre que regressava aos EUA, era chamado para uma sala à parte para ser melhor identificado.

Na primeira vez aceitei muito bem, na segunda com alguma relutância, mas à terceira exigi saber porquê. Não me deram nenhuma informação e dei indicações ao meu advogado para colocar uma ação para que a alfândega se explicasse. O tribunal obrigou-os a informar-me do motivo: tratava-se de uma confusão de nomes com um cidadão colombiano cujo apelido era similar ao meu. Nunca mais tive qualquer problema ou entrave.

 

Acabou por obter passaporte diplomático cabo-verdiano, como foi noticiado?

Sim, mas pedi exoneração do cargo e devolvi-o imediatamente. Fui mais uma vez envolvido numa disputa política interna e servi como arma de arremesso eleitoral. Também neste processo fui convidado e devia ter declinado.

 

Em 2017, foi testemunha no processo em que o GNR João Vidal foi julgado por falsificação de documentos e coação. De acordo com o processo, João Vidal foi seu motorista e faria também cobranças de rendas em atraso a uma empresa sua. A ex-mulher de João Vidal disse em tribunal que o militar fazia "trabalhos (ajustes de contas, ameaças) a mando do Sr. César". Que comentário lhe merece?

É mentira que tenha algo que ver com esse assunto. Não posso ser responsável por ações que colaboradores cometam fora das suas funções e à margem dos serviços que me prestava. Fui ouvido em inquérito, mas não cheguei a ser convocado como testemunha em tribunal e repito, nada tive a ver com o assunto. Esse processo foi arquivado, a pessoa em questão ilibada e pelo que sei continua na GNR. Considero completamente abusiva a ligação que fizeram à minha pessoa. Fiquei muito magoado com a forma leviana como alguns meios de comunicação social, de forma insidiosa. promoveram esse tipo de associações. Aliás, se tivesse tido incidentes o Estado não me teria convidado para as funções que tive.

 

Por que motivo anda com seguranças? Sente-se de alguma forma ameaçado?

Para mim funciona como uma apólice de seguro. É do conhecimento público a minha vida enquanto empresário e a preocupação com a minha mulher, as minhas filhas e comigo. Há mais de 15 anos que recorro a proteção privada, prestada por polícias no gozo das suas folgas. Nos EUA isso é normal e uma forma dos agentes aumentarem os rendimentos. Acho que esta minha escolha é reveladora da minha idoneidade. 

 

Outro caso que o envolve remonta a 17 de setembro de 1991, quando o MP o acusou de furto qualificado de um relógio de ouro e várias joias, com fuga. Foi condenado, mas em 2000 o crime prescreveu e a contumácia cessou a 5 de março de 2002. Quando o caso foi noticiado, o seu advogado disse que nunca cometeu qualquer crime. Sabia desta condenação? 

Tomei conhecimento desta condenação em 2021 pela comunicação social portuguesa. O que posso dizer é que não pratiquei esses factos. A única explicação para ter sido condenado é não ter tido oportunidade de me defender.

No período que vivi e trabalhei no Algarve era muito jovem e relacionei-me com algumas raparigas estrangeiras. Pelos vistos, uma delas, provavelmente por despeito ou vingança por ter terminado um fugaz relacionamento, lançou-me um falso testemunho. Só isso explica este processo. O que é certo é que trabalhei como técnico superior de 1ª classe nos serviços de turismo para o governo português em Macau durante o período em que supostamente era contumaz.

Obtive um registo criminal em 1993, para poder entrar nos EUA, que foi pedido em Portugal. Sempre tive passaportes que ia renovando sem notícia de qualquer processo pendente, muito menos uma condenação. Tenho provas de tudo.

 

As pessoas anónimas não devem escrever o que lhes apetece [na Wikipédia] sem consequências

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O Tribunal da Relação de Lisboa anulou o acórdão (do mesmo tribunal) que obrigava a Wikipédia a apagar algumas informações da página com o seu nome, como a associação ao Chega e a um alegado apoio ao Movimento Zero. Os seus advogados já reagiram?

As informações quanto à ligação ao Chega não me preocupam. O Tribunal já proferiu novo acórdão que obriga a Wikipédia a apagar conteúdos ofensivos do meu bom nome e reputação bem como a identificar os editores desses conteúdos que, de forma anónima, escreveram o que quiseram a meu respeito sem me dar a possibilidade de rebater ou repor a verdade.

Esse é um processo que está a decorrer e vou aguardar serenamente o seu resultado. Mas entendo que as pessoas anónimas não devem escrever o que lhes apetece sem consequências. O Tribunal deu-me razão no essencial. Contudo está ainda em fase de recurso. Costumo dizer que tenho bom coração, mas não aceito que brinquem com o meu nome e da minha família. 

 

Na Wikipédia está também a alegação de que foi processado pela Sioux Pharm, empresa que alegava que a sua firma não tinha permissão para comercializar sulfato de condroitina no Iowa e que os produtos que vendia estavam falsamente rotulados. O que tem a dizer sobre isso?

Mais um processo que tive de interpor para repor a verdade. Tudo o que faço e construí foi a muito custo, com base em critérios de enorme exigência e qualidade. Essa empresa acabou por se retratar, escreveu uma carta nesse sentido porque todas as acusações feitas não tinham qualquer fundamento e o caso ficou resolvido, carta essa que posso mostrar.

 

 


Fonte: Revista Sábado

 


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