César dePaço “Sou português e muito patriota. Não acredito em dupla nacionalidade”
César dePaço, conhecido nos Estados Unidos por César DePaço. Natural dos Açores, assume com orgulho a nacionalidade portuguesa e não aceita outra. É conservador convicto, não esconde a sua ideologia política de direita nem o seu apoio a Donald Trump e ao partido CHEGA. César de Paço chegou aos EUA em 1994 e atualmente é empresário de sucesso na produção e comercialização de sulfato de condroitina a granel para a indústria farmacêutica, nutracêutica e alimentar. Mas há muito mais para além dos negócios e a LusoPress encontrou o empresário em Nova Jérsia para falar sobre o seu percurso pessoal e profifissional.
Sou português e muito patriota. Não acredito em dupla nacionalidade. Nasci na Madalena, ilha do Pico, em 1965, mas não tenho quaisquer raízes à ilha. Tudo aconteceu porque o meu pai era funcionário público e chefiou quase todas as repartições de finanças dos Açores. Naquele tempo era responsável pelas repartições da Madalena do Pico e de São Roque do Pico. Por isso nasci lá. Apesar de ser açoriano e ter orgulho nisso, sou acima de tudo português. E somente português.
Sim e não. Sempre fui muito apologista das forças policiais, quando cheguei aos Estados Unidos tinha 29 anos e a ideia era ingressar na polícia. Queria pertencer às forças de segurança. Isto tudo antes de ingressar nos negócios e criar a empresa, mas para isso tinha que me tornar cidadão americano. Como vim para os Estados Unidos por intermédio da minha mãe, que era uma cidadã americana há 33 anos nos Estados Unidos, podia adquirir a cidadania americana. Mas não quis aceitar a dupla cidadania. Sou português. E por isso não pude seguir para a polícia.
Acho que é preciso ajudar as forças de segurança, especialmente agora que estamos a viver tempos loucos. Tudo o que eu faço pelas forças de segurança é uma paixão. É um hobby. Faço porque realmente o sinto e também que vejo necessidade para ajudar. Não quero imaginar viver num mundo sem forças de segurança. Mas é curioso. Há quem critique aqueles que financiam departamentos de polícia, mas são essas pessoas críticas as primeiras a chamar as autoridades para pedir ajuda, esquecendo que essa ajuda custa dinheiro.
O Lanzer está comigo há dois anos.
Não. Felizmente ele tem uma vida santa. É treinado todas as semanas e acompanha-me para todo o lado.
Sim. Comecei por ajudar comprando canídeos para os departamentos de segurança que precisassem e não tivesse meios financeiros para os adquirirem de forma independente. Neste aspeto, pode dizer-se que o dinheiro facilita estas ajudas porque são cães criados e treinados na Europa, em particular na Alemanha, nos Países Baixos, na Polónia e na República Checa. As pessoas não sabem, mas esses cães, pastores alemães ou pastores belgas, podem custar até 40 mil dólares, dependendo do tipo de treino que recebem.
Comecei isto em 2014 e já entreguei quase 270 canídeos.
Não. Por exemplo, em 2015, houve um ataque terrorista em Paris. Um polícia da capital francesa mandou um dos seus cães procurar os terroristas no interior de um apartamento armadilhado. O cão morreu. Convidei pessoalmente esse polícia francês para viajar até aos EUA e receber outro canídeo. Esteve três ou quatro dias com o cão que escolheu, custou cerca de 15 mil dólares, depois providenciei a viagem de regresso dos dois para Paris. Para além deste caso, também já comprei canídeos para Portugal, entreguei dois à Guarda Nacional Republicana.
Essa é uma história engraçada. Eu adoro cães, sempre gostei. E em 2014 comprei um pastor alemão como o Lanzer. Chamava-se Casanova. Na altura, fui buscá-lo ao Texas, tinha vindo da Alemanha. Queria-o para a minha proteção executiva. Pouco depois soube que o departamento de polícia de Nova Jérsia tinha perdido um canídeo no 11 de setembro e não tinha verbas para adquirir outro animal com aquelas características. Nessa altura pensei: tenho aqui um cão-polícia de 30 mil dólares, posso oferecê-lo à polícia. Assim decidi. Entrei em contato com o departamento de polícia e, obviamente, aceitaram de bom grado, apesar de estranhar tamanha generosidade quando se fala de um animal tão valioso.
Sim e não porque a minha filha mais velha, que na altura tinha três anos, começou a chorar e não me deixou levar o Casanova. Pedi desculpa, mas não ia contrariar a minha filha, ela era muito apegada ao Casanova. Por isso resolvi ajudar de outra forma. Disse para escolherem o canídeo e depois enviassem a fatura, eu pagaria o animal. E assim foi. Mas também já ofereci carros-patrulha, armas e munições, coletes à prova de bala e motas. Quando ofereço alguma coisa, os pedidos de ajuda não param de chegar. E isso acontece porque realmente precisam de ajuda. Tenho pena de não poder fazer mais faço o que posso, não por questões de ostentação ou publicidade, muito do que faço nem é tornado público. Gostava mesmo é que existissem mais pessoas a fazer o mesmo.
Depois do divórcio, a minha mãe foi viver para os Estados Unidos e insistia comigo para que fosse ter com ela. Deixei os Açores cedo, aos 17 anos fui estudar psicologia para o Reino Unido. Sempre gostei de viajar e queria conhecer o mundo. Acho que isso faz parte do ADN dos portugueses. Portanto, viajei pela Europa durante algum tempo. Depois fui para a Austrália e dali decidi ir para a Tailândia. Apaixonei-me pelo país e decidi ficar. Comecei a trabalhar como professor de psicologia na universidade em Bangkok.
Durante essa altura na Tailândia, conheci um amigo que estava na universidade do Camboja. O país tinha estado fechado durante vários anos e quando as Nações Unidas entraram no Camboja procuraram permitir o acesso ao turismo, de forma gradual. Isso levou ao aumento de investimento e procura estrangeira. E esse meu amigo, que trabalhava numa empresa hoteleira, convidou-me para conhcer o Grand Hotel, em Siem Reap. Um hotel do tempo colonial francês que estava muito degradado e essa empresa para a qual o meu amigo trabalhava adquiriu-o. E convidou-me para passar lá um dia e falarmos dos nossos tempos. Estávamos em fevereiro de 1993.
Tudo isso em ano das eleições gerais no Camboja e do ataque terrorista no centro da cidade onde estava, orquestrado pelo movimento Khmer Vermelho, liderado pelo ditador comunista Pol Pot.
Depois de um dia de turismo com o casal, que por acaso era norte-americano, voltamos ao hotel, relativamente cedo e subi para o quarto. Era um terceiro andar, com um elevador e ar condicionado que não funcionavam. Acordei por volta da uma da madrugada com um barulho que não reconheci, pensei que eram crianças a brincar com bombinhas de estalinhos. De repente ouvi um clique e não senti nada. Pouco depois, toquei na testa e percebi que estava molhada. Olhei-me ao espelho e percebi que estava a sangrar. Tinha sido atingido por uma bala perdida de uma AK47.
Estava realmente a sangrar imenso. Saí do quarto para pedir ajuda e encontrei dois franceses, guarda-costas do Presidente François Mitterrand, que deveria estar na cidade no dia seguinte. O ataque teria acontecido alegadamente em protesto a essa visita. Levaram-me até a um carro das Nações Unidas, neutras em todo o conflito, que me transportou até ao hospital. Disseram-me que tive muita sorte, um milímetro acima e a bala não teria saído. Por acaso, encontrei a bala no quarto no dia seguinte. Guardo-a comigo ainda hoje.
A minha mãe, que vivia na zona de Newark, sempre insistiu para que viesse para perto dela. Mas nunca gostei daquela zona, não tinha nenhuma vontade. Naquela altura era preciso submeter um pedido de visto para poder entrar nos EUA. A minha mãe fê-lo por mim, mas não dei seguimento. Pelo menos até ao dia em que me ligou a alertar sobre o estado de saúde do meu avô. Nessa altura, tratei dos documentos para poder visitar o meu avô nos EUA. Foram cerca de três meses de espera até reunir todos os documentos e poder entrar legalmente no país, tínhamos de ter registo criminal e até fazer exames médicos como o teste ao HIV / SIDA.
Não. Fiquei por três semanas, depois voltei à Tailândia. Só um ano depois, em 1994, é que decidi vir definitivamente para os Estados Unidos. Cheguei e trabalhei como psicólogo, depois no início de 97 conheci alguém relacionado com a indústria farmacêutica e criámos a Summit Sourcing Inc. Concentrámo-nos na venda de sulfato de condroitina (componente natural de cartilagem usado em suplementos alimentares e medicamentos para questões articulares). Naquela altura, o sulfato de condroitina que se vendia nos EUA era fabricado na Europa. Tudo correu bem até ao final dos anos 90 quando a BSE (conhecida como doença das vacas loucas) atingiu a Europa e isso criou desconfiança e medo nos consumidores norte-americanos.
Importávamos muito da Alemanha e da Dinamarca. De repente deixámos de conseguir vender, percebi que era preciso mudar. Fechei a empresa e criei a atual, a Summit Nutritionals International, em 2001. Passei a vender sulfato de condroitina totalmente produzido nos EUA e ainda agreguei o certificado oficial do departamento de agricultura dos EUA que garantia não existir qualquer risco ou caso de BSE no país. Como deixei de importar, os custos diminuíram drasticamente a par do aumento exponencial dos lucros. Em pouco anos, tornei a empresa líder de mercado à escala global.
Praticamente para todo o mundo. Conseguimos extrair sulfato de condroitina de vários animais de forma a garantir produto de qualidade para os diferentes mercados, por exemplo para a índia onde não consomem produtos bovinos e por isso temos sulfato de condroitina extraído de cartilagem aviária. Já no caso dos países asiáticos, outro exemplo, onde consomem muita carne de porto e tubarão, criamos o produto a partir da cartilagem desses animais.
Nunca tive, até ser nomeado Cônsul Honorário de Portugal, grande relação com a comunidade portuguesa nos EUA. Mas nessa altura aproximei-me mais, acompanhei de perto a realidade em que muitas dessas comunidades vivem e as dificuldades que enfrentam. Entre 2014 e 2020 conheci de perto a comunidade portuguesa e ajudei muito, em particular crianças que precisavam fazer certas cirurgias e não tinham meios financeiros para isso. Fiz e faço o que posso, sempre que vejo que existe uma necessidade real. Gastei quase meio milhão de dólares por ano para manter o consulado operacional.
Recebemos muitas visitas oficiais e elogios de toda a parte. Quando pedi exoneração do cargo, por incompatibilidade com o embaixador de Portugal, muitas pessoas vieram ter comigo a lamentar a decisão e diziam que dei à comunidade portuguesa na Florida o melhor consulado de sempre, em todos os sentidos.
Sinceramente, acho que os portugueses são pouco unidos e até invejosos entre si. Acredito que se houvesse mais união todos ficariam melhor, todos saíram a ganhar. Aqui nos EUA as comunidades emigrantes são cíclicas. Por exemplo, em Ferry Streat (Nova Jérsia) havia até uma placa com o nome Portugal Avenue, não sei se ainda lá está, que era totalmente dominada por comércio e serviços portugueses em 1994, quando cheguei aos EUA. Atualmente, são raras as lojas portuguesas, há mais hispânicas e brasileiras. Portanto, são fases... e também por isso sempre me mantive mais reservado no seio da comunidade portuguesa nos EUA. Tenho muita pena que estejamos tão afastados uns dos outros.
Sou cem por cento conservador, mas tento manter neutralidade no que respeita à política. Mas os Estados Unidos são um país republicano e acredito que isso irá vencer as eleições.
Sou um individuo de direita, desde cedo que acompanho essa ideologia política. Em Portugal, filiei-me no CDS aos 17 anos. Atualmente acompanho o CHEGA. Acho que as pessoas têm uma ideia errada sobre a ideologia do partido. O CHEGA não é racista nem contra a imigração, são sim contra a imigração ilegal, descontrolada. E isso é completamente diferente.
Sou a favor da imigração, desde que seja como eu. Cheguei aos EUA pela via legal mesmo que tenha demorado três meses a tratar dos documentos necessários. O que se passa na fronteira com o México é indescritível. Mais depressa ajudam os ilegais a entrar no país, do que os cidadãos norte-americanos que precisam de ajuda. E isso para mim não faz qualquer sentido.
Sim. Vejo-o diariamente, especialmente no verão porque nessa altura vivemos no mesmo clube. No inverno ele vai para a Florida e não nos encontramos tanto. Ele gosta muito do Lanzer, a minha filha mais nova brinca muitas vezes com os netos dele.
Não. Eu não sou estou registado republicano. Sou neutro.
Empresário açoriano a viver nos Estados Unidos, César de Paço é natural da Madalena, ilha do Pico (Açores). A vida no estrangeiro começou muito cedo, aos 17 anos foi estudar para o Reino Unido, onde se formou em psicologia. Dotado de um espírito aventureiro e destemido, César de Paço passou depois por França, Chipre e Austrália antes de chegar à Ásia onde esteve até ir para os EUA. Viveu na Tailândia e em Macau, mas foi um ataque terrorista no Camboja que determinou o reencontro com a família materna nos EUA. Em 1994, aos 29 anos, César de Paço mudou totalmente a sua vida profissional com a ida para os EUA. Casado, pai de cinco filhos e apaixonado por cães, é empresário de sucesso na produção e comercialização de suplementos alimentares com base em sulfato de condroitina. Fez parte da criação e da gestão da empresa Summit Sourcing Inc.
E no início do milénio encerrou a empresa para fundar o seu atual projeto: a Summit Nutritionals Internacional. Para além disso, César dePaço tem um longo historial enquanto filantropo, com diversas ações solidárias em Portugal e nos EUA. Já doou milhões de euros a diversas Associações de Bombeiros Voluntários, incluindo veículos de combate a incêndios. E também nas forças de segurança, onde tem contribuído com a doação de cães-polícia altamente especializados, carros de patrulha e equipamento. Foi Cônsul Honorário de Portugal para os Estados Unidos da América, durante seis anos, entre 2014 e 2020. Nesse período, representou Portugal em Palm Coast, no estado da Flórida.
Acompanhou de perto as comunidades naquela região e foi amplamente elogiado pela diáspora pela forma como geriu o consulado. Durante a sua gestão, César de Paço fez questão de organizar as comemorações do Dia de Portugal em Palm Coast. Em 2020, acabou por se afastar por incompatibilidade com o embaixador de Portugal. Soma dezenas de títulos honorários e distinções atribuídos pelos departamentos de polícia e de segurança que apoiou nos Estados Unidos. O mais recente é o título de Coronel Honorário atribuído pelo Departamento de Polícia de Brigham City no Utah, no início de 2023. Mas também recebeu vários prémios na sequência dos contributos que tem prestado quer a instituições norte-americanas como portuguesas.